segunda-feira, 27 de julho de 2009

Voltando e falando do vídeo

Voltando...

Descobri, a moça do vídeo no post anterior é ucraniana, não suíça nem norueguesa.

Cheguei neste vídeo sem querer, mas já vi vários outros dela no youtube, inclusive de um campeonato chamado LBC World Bellydance Championship, onde ela chegou à final.

Quando eu procurei por vídeos de bailarinas de outros países queria ver principalmente as diferenças, claro, mas não encontrei coisas tão diferentes não. Estava atrás de “marcas culturais” por exemplo, mas pelo menos por enquanto não encontrei nada que surpreendesse nesse aspecto. Como a Ket falou, “nada de novo”. Hunf, fazer o quê? Estudemos o “velho” então, afinal sempre se aprende alguma coisa, rsrs...

Assisti várias vezes o vídeo e fui anotando as coisas que gostei mais e menos.

A roupa dela tem um modelo bonito, como a Natasha comentou, e eu até gostei dos tons, só que a ideia da borboleta pode ter sido boa na teoria, mas não funcionou bem na prática. Muito grande! Mas os cabelos e a maquiagem estão bonitos – e ela já é uma mulher bonita, então até fica fácil, rsrs.

Ela começa a dança saindo desse “objeto não identificado” (se alguém souber o que é isso, por favor ajudem) e como a Ket falou, é meio “a la Saida”. Desconsiderando esse comecinho, que eu pessoalmente não gostei, achei interessante a maneira como ela se apresenta para o público. Em vez de grandes deslocamentos na entrada, ela dá alguns giros e fica de costas para o público. Depois faz algumas ondulações, enfim, não vou descrever porque dá pra ver isso tudo no vídeo, mas gostei dessa alternativa para o “deslocamento quase que obrigatório” no início das músicas clássicas. E a leitura dela também está bem limpa nesse momento: ondulações, pequenos deslocamentos, giros bem colocados. A única coisa que senti falta foi de um crescendo para terminar essa primeira parte. Ah, quando o vídeo começou, pensei “ondulações de braços muito bem feitas”, mas depois os braços - e mãos - continuaram ondulando e começou a parecer automático. Embora algumas das posições de braços tenham ficado interessantes, tem muita informação.

Agora na segunda parte, do Shik Shak Shok. A mulher tem uma p... dissociação!!! Principalmente no peito. Movimentos bem isolados, bastante domínio do corpo.
Ela tem uma mania de ”palminha” que às vezes agonia! Acho até bonito uma vez ou outra, especialmente quando cai junto com alguma batida da música, mas pelo menos no começo dessa parte tem demais.

Embora eu tenha gostado da alternativa aos deslocamentos que ela fez no início da primeira parte, acho que na parte dos 03:21 ela devia ter deslocado. Pelo menos eu senti que precisava, nem que fosse só um pouquinho!!! Tudo bem que a música vira uma pauleira a partir daí e existe o risco de ficar lotada de tremidos e deslocamentos malucos (ok, rolou uma identificação pessoal aqui); aliás, nos 03:45 não consegui acompanhar a leitura dela. Acho que ela quis seguir tanta coisa que ficou muito misturado. Depois ela faz algumas coisas mais calmas e contidas, e acho que foi uma boa pra segurar o gás pro final.

Eu sei que essa música é super conhecida e dançada por aí, mas eu nunca tinha prestado atenção nela inteira... é bem complicadinha, não? Tudo bem que não tem mudança de ritmo, e tals, e não é nenhuma das clássicas, mas o final é muito acelerado. Fiquei aqui tentando pensar em alternativas, mas tudo parece que fica cansativo, tanto pra quem dança quanto pra quem assiste. Pelo menos fiquei com essa impressão. Depois vou dar uma olhada no youtube e ver como outras bailarinas resolveram o problema.

Nem preciso dizer que músicas muito rápidas são o terror pra mim...

Quanto à Leila (a bailarina do vídeo), tenho visto outros vídeos dela e, embora não goste do estilo, acho que tem coisas que merecem atenção (como em qualquer bailarina profissional). Uma das conclusões que tirei da primeira parte deste vídeo dela, é que às vezes fica muito mais bonito fazer movimentos mais “simples”, como camêlos grandes e lentos, bem executados, do que encher de coisa e acabar deixando a dança incompreensível. E não é que eu nunca tenha ouvido isso de uma professora; já até ouvi várias vezes, mas quando a gente assiste outras bailarinas aplicando, isso fica bem mais claro do que fazendo. Aquilo que dizem de “menos é mais” funciona muito bem na dança do ventre.




quarta-feira, 22 de julho de 2009

Já volto!

Gente, estou num corre-corre de final de semestre que não está brincadeira, por isso a demora pra postar, e eu gosto de escrever coisas com calma, sabe como é. Mas semana que vem as coisas vão se acalmar e eu volto a escrever.

Só pra apresentar algo que eu gostaria de explorar melhor mais pra frente, coloco um vídeo de uma bailarina chamada Leila, e embora não tenha certeza, acho que ela é suiça. Estou começando a procurar bailarinas fora do circuito Egito-Brasil-EUA-Argentina, por pura curiosidade mesmo, e pra ver o que outros países estão apresentando na DV. Nesse vídeo ela apresenta uma música que é velha conhecida, e ainda vou assistir com mais calma pra opinar melhor. Mas uma coisa posso adiantar: não gostei do figurino, achei um pouco exagerado.



Depois comento melhor! bjs a todos!!!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A busca de todo o artista – equilibrar a técnica e a emoção

Artista do Cirque du Soleil

Grandes artistas – especialmente bailarinos – são aqueles cuja técnica é considerada perfeita. São aqueles que as pessoas observam e não entendem como algum movimento é feito, como alcançaram tal flexibilidade, força e, que, além de tudo isso, desperta algo em quem o assiste, sorrisos, lágrimas, até revolta, mas que faça algo ser "acordado". É a perfeita junção da técnica e da emoção.

Um bailarino pode ser fantástico na parte técnica, mas nunca será completo enquanto não conseguir sentir e demonstrar isso no palco, afinal o papel da arte é despertar algo em quem a observa – na minha opinião – e isso só pode partir do artista que sente algo no que está fazendo. Não há como dançar sem sentir algo pela dança.

Na dança passamos por muitas sensações, antes, durante e depois do momento da apresentação. Primeiro é a expectativa, a alegria de ver um trabalho ser preparado, as angústias que surgem no processo, o nervosismo pré-palco, as frustrações eventuais e a satisfação final. As coisas não acontecem necessariamente nesta ordem, nem nesta forma organizada como as palavras descrevem, porque sentimentos podem e muitas vezes são caóticos, e não há razão que os organize.

O que eu entendo como domínio de palco – em relação ao lado emocional – é aquela pessoa que sente uma certa ansiedade antes e até no início de uma apresentação, mas que aos poucos vai disso para uma verdadeira alegria de estar dançando e apresentando um bom trabalho, sem preocupações com técnica nem erros, mas só ouvindo a música, o público e deixando o pensamento de lado. É a hora de apresentar o fruto de todo o estudo e das horas de trabalho suado, sem pensar nelas.

O grande Paulo Autran

O domínio das próprias emoções pode ser tão ou até mais difícil do que a parte técnica. Isso porque todo o estudo pode ser sabotado se a ansiedade não estiver controlada (isso já aconteceu e continua a acontecer comigo em apresentações).

Estou aprendendo a lidar com tudo isso na dança, mas isso é só a pontinha do iceberg. Por enquanto acho que não estou nem perto de conseguir dominar a ansiedade e o nervosismo. Ainda consigo me divertir, mas ainda falta muito para relaxar. E nem todo o meu estudo tem me ajudado neste aspecto, afinal estudo é racional, e o que estou buscando é emocional. Mas, e aí? Além da experiência pessoal e a dos outros, como posso trabalhar isso? Eu sei que o momento no palco é único e impossível de se representar fora dele, sem um público, mas não acho que devo simplesmente esperar cada nova apresentação e 'torcer' para que as coisas se ajustem aos poucos. Já tentei, e aparentemente não é bem por aí que as coisas vão melhorar. Então, busco armas onde posso: no estudo, na pesquisa e em todo o trabalho pré-palco novamente. Espero não estar andando em círculos, mas isso só o tempo dirá.

Entre algumas coisas que tenho tentado, encontrei palavras úteis e interessantes em um livro que li há muitos anos, dos tempos em que estudava música erudita. É um livro pequeno, comprado direto da autora, mas que é excelente. O nome é "Tocando com Concentração e Emoção", e a autora chama-se Marcia Kazue Kodama. Ele inclusive foi
republicado no ano passado pela editora Som, segundo a própria autora, e agora pode ser comprado pelo site.

O livro é pequenino, mas riquíssimo em informações, e é impressionante como algumas partes aplicam-se perfeitamente para bailarinos também, tirando alguma terminologia específica da área de música. Lembrei desse livro sem querer, e seguindo a intuição fui remexer no armário, encontrei e reli. Com a devida autorização da autora, coloco alguns dos trechos que achei que melhor se aplicam a bailarinos também. E os que mais convém aos meus objetivos de agora...

"Todos os processos de aperfeiçoamento, tanto técnico como interpretativo, precisam de tempo, trabalho e dedicação para o seu desenvolvimento e amadurecimento. Se eles não forem dominados, as dificuldades causadas pela falta de domínio aparecerão em todas as peças tocadas".
Se a técnica requer tempo e estudo, talvez o domínio dos sentimentos que envolvem uma apresentação também precise do mesmo, e de muita paciência, porque cada um tem seu tempo de aprendizado, e ele pode ser mais longo do que gostaríamos.


"A emoção que o intérprete pode transmitir não é apenas a emoção pessoal, mas também a emoção originada pela própria música. Cada harmonia, cada sequência de notas, cada ritmo e cada combinação de sons e melodias, pode ser associado a uma emoção, e assim à própria música, independente do seu sentimento pessoal, pode provocar uma reação no músico e todo esse sentimento ser passado aos ouvintes".
E é tão bom quando há essa troca...é tão bom sentir-se tocado por um artista, e o contrário também deve ser fantástico.

"Acredito que uma das riquezas da música é ser uma arte de momento. A única maneira de repetir a mesma interpretação é através de uma gravação, pois nenhuma música poderá ser produzida exatamente da mema forma; cada interpretação é única".
É aquela velha história, uma bailarina pode dançar a mesma música 10 vezes, e elas serão todas diferentes, mas acredito que isso ocorra de verdade quando há sentimento, quando mesmo com uma coreografia ensaiada e apresentada muitas vezes, o artista deixe-se expressar.

Randa Kamel

"Por isso, não importa o quanto os outros tocam, nem que Mozart aos 8 anos compunha sinfonias. O importante é ver humildemente quais as suas condições reais, as suas dificuldades e capacidades, mesmo que estas sejam aquém do ideal. Não adianta tentar fazer coisas que não estão ao seu alcance, isto resultará em frustrações, aborrecimentos e perda de tempo.
Procure respeitar o seu limite e fazer o seu melhor dentro dele; se conseguir fazer o seu melhor, com certeza se surpreenderá com o resultado final".

Esse trecho é um tapa na cara pra mim; é muito importante para aqueles momentos de "eu não consigo", "tá muito difícil" ou os piores como "mas a fulana faz isso tão facilmente". Tsc, tsc, tsc, cada um a seu tempo, com as suas próprias características. Preciso me lembrar disso sempre!

Enfim, eu poderia citar muitos outro trechos porque o livro é realmente bom. Ela também fala sobre a neurofisiologia da execução musical, explica um pouco a diferença dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro e quais mecanismos utilizamos para a concentração, memorização e no aprendizado musical como um todo. No livro também há algumas citações do livro "Inteligência Emocional" – que é o livro que estou lendo no momento – que é outro riquíssimo em informações sobre emoções, e que talvez vire um post futuramente.

Uma das coisas que a Marcia fala que eu gosto bastante é sobre os tipos diferentes de memórias, outro estudo fundamental para qualquer estudante e professor, seja de artes ou qualquer outro assunto; enfim, tem muita coisa, valeu a pena reler o livro. Preferi citar os trechos mais marcantes, pelo menos neste segundo momento em que li. São eles que têm me ajudado a refletir e a buscar o domínio que preciso para subir no palco e dançar mais relaxada, porque alegria existe, com certeza, o problema é aprender a dosar as coisas.

Só pra finalizar, uma apresentação antológica de uma cantora técnica e extremamente expressiva, uma tal de Elis Regina, já ouviram falar? :P