quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Falando um pouco de Lulu


Há tempos que queria escrever este post, mas já não gosto de escrever correndo, e um post sobre quem quero falar então, tem que sentar e pensar pra fazer direito.

A bailarina deste post é “uma tal” de Lulu Sabongi, conhecem? Não vou ficar falando quem ela é porque acredito que ela dispensa apresentações...

Mas o que realmente me impressionou e sobre o qual vou ser mais específica aqui é sua última dança no Khan. Na época deu muito o que falar, muitas pessoas apoiaram a atitude da Lulu, outras nem tanto, e a minha opinião é que tudo foi uma grande sacanagem com ela, que ajudou a construir aquele lugar. Mas, passou-se um ano, Lulu vai muito bem obrigada no Shangrila, tem uma filhinha que é uma gatinha, e continua sua evolução como bailarina. Minha intenção não é tentar retomar essa discussão.

Eu sou uma criatura ultra nerd, e como tal A-DO-RO um belo estudo técnico, e esse vídeo da Lulu de10 minutos pode ser considerado um bom resumo de seus 28 anos de experiência, e toda essa bagagem de movimentos e influências. É tanta coisa que só pra escrever esse post, já assisti o vídeo umas 10 vezes, pausando, voltando, e tentando entender determinados passos. Eu também gosto de imaginar o suspiro que ela deu antes de entrar em cena. Imagina o peso, as lembranças e a entrega naquele segundo que precede a entrada: “vou fazer minha última apresentação nesse lugar que amo!”, e começa algo que seria eterno.

Emoção de lado (se é que isso é possível) aprendi e ainda estou aprendendo muito sobre essa única dança única (repetição proposital) da Lulu.



1 – A entrada com o véu
Nesse vídeo a Lulu fica praticamente 2 minutos com o véu, mas seus movimentos mostram o quão belo pode ser o simples. Ela não faz movimentos bruscos nem os varia demais (uma tendência atual). Ela usa o véu como seus braços, emoldurando seus movimentos. Depois ela passa o véu para uma das mãos, e penso “ok, hora de jogar o véu” – não, não, engano meu!! Continua a dançar com o véu, que volta para as duas mãos, tranquilo, bem natural. Meu momento favorito é a partir de 1:34, quando ela está girando e vai subindo o véu aos poucos. A cabeça levemente tombada, o olhar acompanhando o giro... poesia!

2 – Tremidos
Desde que eu comecei a dançar os tremidos da Lulu sempre foram um mistério pra mim. Lembro que fiz um workshop dela na FIEL de 2007, e tava lotaaaaado. Eu fui de mansinho até a beira do palco e ficava só olhando pra tentar entender o que ela fazia com os pés e com joelhos, mas parecia tudo imóvel!!! Nossa, que nervoso! Claro que eu sei que é impossível fazer tremido sem movimentos de joelho, mas até hoje ainda fico surpresa como seus movimentos de joelhos são pequenos pra produzir um tremido tão forte e estável. Muitas bailarinas recomendam que não se mostre as pernas quando for fazer tremido, pra que as pessoas não vejam os joelhos se movimentando, mas a Lulu mostra que é possível mostrar sim, desde que os joelhões não façam movimentos enormes. Continuo tentando!

3 – Cambré
O cambré dela é muito bonito, mas a forma como ela entra no cambré, sem aquela comum pausa de costas (“hora de fazer cambré, público, prestem atenção em como sou flexível!”), mas sim vindo de um meio redondo lento, e numa queda bem devagar, muito, muito, muito difícil. Haja abdômen! E ela ainda fecha os olhos e aproveita aquele momento, como se fosse uma reza mesmo. Na volta, as mãos juntas no alto, o silêncio. 10 segundos em que o público prende a respiração e ninguém consegue desviar os olhos (preste atenção nas pessoas em volta).

4 – Giros
TODOS os seus giros são diferentes. É como se ela tivesse pego seus caderninhos de giros e decidido: vou fazer TODOS!!! Tem giro tremendo, meio giro lento, meio giro inclinando o tronco, giro brejeiro “a la Dina”, giro que eu apelidei de “giro Lulu”, que acho característico dela (com um dos braços para cima, como se estivesse puxando o corpo, em 07:02), giro com aceleração, giro com cabelo...preste atenção.

5 – Chão
Sou suspeitíssima pra falar da parte de chão, porque A-MO dança de chão. Mas está cada vez mais difícil ver grandes bailarinas fazendo, e parece que existe um pacote fixo de passos no chão, vai acontecer isso, isso e isso. Lulu fez chão (aeeehh!!!) e foi mais um daqueles momentos de prender a respiração e de cochichar um “noooossa”, “meeeeuu”, porque foi lindo. E é muito difícil fazer o que ela faz, porque ela faz tudo muito lento, e os movimentos lentos são os que mais exigem da musculatura das pernas e do abdômen. Quando ela está de joelhos no chão e desce com o tronco e cabeça, já é difícil, agora voltar sem a ajuda dos braços, minha amiga, dói, aaah dói! E depois disso ainda tem mais 4 minutos de dança...até parece fácil.

6 – Gestos
Às vezes um olhar, um movimento sutil de braço e mão, é o que marca um momento. E embora esse vídeo da Lulu tenha muitos momentos sutis como esse, o que eu pessoalmente mais gostei e me emocionei demais é a sequência que ela faz depois de subir da parte do chão, de 06:26 até 06:47, quando ela encerra com “mente, coração, meu público”. Nossa, até escrevendo isso me dá vontade de chorar, porque nesse momento só ela sabia o tamanho do significado disso; depois de sabermos que era sua última apresentação lá é que entendemos a força desses “pequenos” gestos.

7 – Homenagens
Ok, falei que ia deixar a emoção de lado, mas não consegui. Qual é a melhor homenagem que uma bailarina pode fazer para alguém? Oferecer sua dança. E é tão bonito quando ela chama o Gabriel, a Nagla e a Simone. Honra muito grande, “estou aqui pela última vez e vou dançar pra vcs, que significam muito pra mim”. Mas uma sequência aparentemente simples, que já vimos acontecer com outras bailarinas, mas que ganham outro significado depois que vemos o desfecho da história.

8 – Momento “Onde está o Wally?”
Vcs repararam que em um determinado momento a Lulu coloca uma faixa de tecido de sua saia sobre o top de propósito? Eu tive que assistir de novo pra descobrir como isso aconteceu. E depois como ela tira esse tecido? Não foi acidente, não foi sem querer. Um toque, uma graça!

Bom, esses são alguns dos momentos que mais me chamaram atenção e que considero um ótimo material de estudo. Mas é óbvio que é impossível separar o lado técnico da emoção desse momento pelo qual ela estava passando. Eu falei que tentaria, mas já sabia que não ia conseguir.

A Jade uma vez disse que a mulher é na dança o que é na vida, e esse vídeo da Lulu ilustra bem isso, o que uma bailarina de verdade consegue fazer diante de um momento triste, que em vez de chorar é muito melhor usa-lo como fonte de inspiração, e a inspiração fica de lição para as outras bailarinas e para o público.

Nunca é demais falar de um ídolo.

bjo!

6 comentários:

Natasha disse...

Oii Naznin!!
Faz tempo que não passo aqui, também estava um pouco sumida do meu blog...

Sobre seu post, simplesmente amei as observações que você fez do vídeo da Lulu. Eu já tinha assistido o vídeo e amado é claro, como todos os outros vídeos dela, mas não tinha visto de novo, então não tinha reparado em alguns detalhes.

Ela simplesmente arrasou, é lindo de se ver, eu me emociono também.

Um grande beijo!

Natasha disse...

Tudo sim e com você?

Pois ééé, eu vi, vai ser um sucesso essa revista, tô louca pra ver!

Ahh, obrigada querida!
Posso até parecer calma, mas sempre fico com aquele frio na barriga, huahuauhauhaua
Mas também, sem esse friozinho não tem graça, né?
E o restaurante é legal sim, faz pouco tempo que vou lá, mas é um ambiente gostoso.

Beijinhoos!

Elaine Cris disse...

Adorei o post, assim como adorei essa apresentação. Acho que a Lulu ganha a gente pela técnica, pelos giros, mas também pela simpatia, a intensidade, a emoção que ela passa pra gente ao dançar...

Tenho uma amiga que faz dança há pouco tempo e que não gostava da Lulu e exatamente depois de ver essa apresentação no youtube aqui em casa, passou a amá-la.

Bjus

Naznin disse...

Oi Laurinha! Seja bem-vinda ao blog!

Engraçado que aconteceu uma coisa parecida comigo: também tinha ouvido falar um monte de coisas ruins sobre a Lulu logo que comecei na dança do ventre, mas aí foi só assistir uma apresentação dela no Khan que esqueci todas essas besteiras (eram besteiras mesmo).

bjão

Anônimo disse...

Esse vídeo da Lulu é t-u-d-o que há! Maravilhosa.
Ela deveria dançar sempre como se fosse a última vez.
Arrasou!

Naznin disse...

Pois é Lory, o que um momento como esse fez por sua dança (que já não era qualquer coisa, diga-se de passagem). E é bom saber também que as coisas estão indo bem pra ela, como mulher e profissional.

bjão